Se alguém quer ser o primeiro, que seja o último de todos e aquele que serve a todos! (Mc 9,36). Esta palavra de Jesus foi dita num momento de discussão entre os discípulos sobre quem seria o maior. A narrativa de Marcos ressalta a dificuldade deles entenderem Jesus. Enquanto Jesus falava a respeito da sua paixão e morte, isto é, da doação da própria vida pelos outros, os discípulos estavam pensando em honrarias ou privilégios, atribuídas a quem ocupasse o primeiro lugar. Sempre que alguém quer ser o maior, provoca no mínimo discussão, mas pode acabar gerando violência e dominação. Querer estar acima dos outros, buscar honrarias e privilégios, não condiz com o Evangelho anunciado por Jesus. No mundo de hoje, essa conduta pode alimentar o carreirismo e até mesmo a corrupção. Por isso, essa não pode ser jamais a atitude de quem está a serviço da comunidade ou do povo. Quando se busca grandeza e poder, coloca-se o interesse particular, pessoal ou de grupos, acima do bem dos demais, favorecendo desmandos e corrupção.
Numa passagem semelhante, Jesus acrescenta: “Eu estou no meio de vós como aquele que serve” (Lc 22,27). Lucas insere claramente esta palavra no contexto da instituição da Eucaristia e da Paixão. Na narrativa de Marcos, a palavra de Jesus a respeito de quem é o maior está relacionada ao anúncio da Paixão e Morte de Jesus, que os discípulos não conseguiam entender ou aceitar. Por isso, o que Jesus diz tem a ver claramente com a doação generosa da própria vida e o serviço humilde aos irmãos. O discípulo de Jesus é chamados a segui-lo, fazendo-se servidor, como ele. Deus se revelou na humilde manjedoura de Belém, Deus se fez servo no lava-pés e na cruz, Deus se faz presente na simplicidade do pão eucarístico. A vida de um cristão não pode ser diferente; deve ser marcada pelo serviço, pela doação de si, pela humildade e pelo amor capaz de sacrificar-se e ser fiel até o fim.
Contudo, isso não se consegue de uma vez por todas. Os discípulos foram aprendendo com Jesus, caminhando com ele, escutando-o e falando com ele, assim como devemos fazer, hoje. Os discípulos que discutiam quem seria o maior, mais tarde, derramaram o sangue por Jesus. O que aconteceu com eles? Eles viveram um longo discipulado, convivendo com Jesus; passaram pela experiência da morte e ressurreição e receberam o Espírito Santo.
Hoje, somos chamados a testemunhar a alegria de servir a Cristo, acolhendo e servindo os pequeninos, repetindo o gesto de Jesus (Mc 9,37). É a ele que acolhemos e servimos, quando gastamos nosso tempo e doamos a vida em favor dos pequenos, dos pobres e sofredores.
Sérgio da Rocha,
Arcebispo de Brasília